Quando a escrita se transforma na única forma de alimentar as esperanças)
OBS: este trabalho de críticas e pontos de vista pessoais de um estudante santomense, foi escrito no início da década de noventa, enquanto estudante universitário em Kharcov, Ucrânia – Ex-União Soviética. O fato de ter sido manuscrito, obrigou a que se tornasse necessário a sua digitalização, o que foi feito paulatinamente. Contém 62 páginas e para que a leitura do mesmo não seja, por isso, muito enfadonha, esta publicação, utilizando este espaço deste jornal digital, é feita de forma faseada em 8 unidades (bibliografia, introdução e que fazer?, pesca e pecuária, turismo, desporto, cultura, ensino superior, economia e política), sendo que desta vez é publicada a unidade 3/8 referente a uma parte de “O TURISMO”. Já foram feitas duas publicações, sendo: 1/8 – 18-10-2023 (https://www.telanon.info/politica/2023/10/18/42113/sao-tome-e-principe-que-futuro-3/) 2/8 – 15-11-2023 (https://www.telanon.info/sociedade/2023/11/15/42377/stp-que-futuro-mau-humor-estudantil/)
ÍNDICE
O MEU EU.. 2
INTRODUÇÃO.. 4
I. QUE FAZER?. 6
II. A PESCA.. 13
III. A PECUÁRIA.. 16
IV. O TURISMO… 18
IV.1. O Desporto. 23
IV.1.1. A Assossiação dos Clubes desportivos. 27
IV.2. A Cultura. 32
IV.2.1. Os agrupamentos culturais. 33
IV.3. O Ensino Superior como grande vítima. 35
IV.3.1. A contribuição dos estudantes no desenvolvimento do turismo. 36
IV.3.1.1. Organização Estudantil 43
V. ECONOMIA.. 45
V.1. Sector energético. 46
V.1.1. Hidroenergia. 47
V.1.2. Fornecimento de água e energia eléctrica. 50
V.2. Outros assuntos. 52
V.2.1. Centro de aconselhamento para investimentos. 53
V.2.2. Protecção do ambiente. 54
VI. POLÍTICA.. 57
VI.1. Exemplos dos efeitos negativos dum regime (guarda-costas) 57
VI.2. A Censura. 59
VI.3. Sistema de governação para STEP. 60
O Turismo – uma actividade que nos finais do século XX se transformou em principal ou uma das principais fontes de divisas de muitos países, inclusivamente dos altamente desenvolvidos.
Basta reconhecer que nos países mais desenvolvidos, hoje, a agricultura e a indústria, juntos, representam entre 35 e 50% do Produto Interno Bruto, sendo as restantes percentagens, que, por conseguinte, são a maioria, pertencem à esfera de prestação de serviços, que engloba os transportes, comunicações, comércio, habitação, recreação, finanças, e outras formas de servir o público.
Sendo assim, a esfera de prestação de serviços pode encontrar a sua designação na expressão “Turismo”.
Possuir a esfera de prestação de serviços organizada e num grau de desenvolvimento moral adequado, significa possuir grande interesse turístico.
Infelizmente, em STEP, nenhuma das principais atrás mencionadas componentes da esfera de prestação de serviços tem significado e interesse adequados, nem tão pouco o devido respeito para com o público por parte de entidades prestadoras desses serviços. Ora se não existe respeito para com nacionais, há-de haver para com turistas? Duvido!
O país não possui um sistema de transportes adequado nem ao nível interno nem externo. Ao nível interno, todos conhecemos a sorte das nossas estradas: As antigas se destroem e novas não são construídas. Mesmo as estradas principais de comunicação mais directa entre as cidades do país são esquecidas.
A natureza dessas ilhas é a única riqueza, o único propósito para a previsão de um turismo saudável.
Sim! Ao contrário dos já conhecidos grandes centros turísticos mundiais, onde o antiquismo permite aos turistas se regalar principalmente com as magníficas obras dos seculares e milenários antepassados, as ilhas de São Tomé e Príncipe só podem oferecer aos turistas a sua beleza, o seu exotismo “inigualáveis?”, num mundo onde a destruição ambiental, ora natural, ora, sobretudo antropogénico, é um processo que se verifica quase ininterruptamente.
Sim! Talvez as nossas flora e fauna venham a servir de regalo preferencial dos turistas mundiais? Quem sabe?
Entretanto, hoje, infelizmente, nem a flora nem a fauna das ilhas está em condições de chamar a si tamanha responsabilidade. Se por um lado a nossa flora tem vindo a sofrer transformações, perdendo o seu exotismo mediante uma destruição massiva de árvores de fruta tropicais, com consequências, talvez, duma frustração direccional do país na tentativa de encontrar novas fontes de divisa e “auto-suficiência alimentar” que, aliás nunca chegam, então, por outro lado, à fauna não se tem prestado a mínima atenção.
Os nossos pássaros, por exemplo, continuam a ser alvo de perseguição, continuam a existir longe do homem santomense apesar do pequeno espaço territorial que nos alberga a todos, nós e eles. Nem mesmo na cidade capital os pombos abundam. Ora, o pombo, ao nível mundial, parece ser o mais domável dos pássaros.
Afinal! Quem somos nós? Ou o que somos nós?
Eu diria mesmo que sou adepto da proibição da caça e do engaiolamento dos pássaros, ainda que fosse uma proibição temporária. Aquele que quisesse possuir pássaros para enfeite, que seja “bonzinho” em relação aos pássaros, duma forma geral, pelo que, impreterivelmente, estes o aproximarão. Eu seria igualmente adepto da criação de estímulos aos indivíduos que pudessem possuir no seu quintal, pássaros ao ar livre e a obedecer ao apelo do “dono”.
Talvez que tal situação pudesse servir de aparição, ao nível nacional, duma “nova profissão”: a da educação de pássaros? É claro que isso só pode ser atingido mediante uma proibição, ao nível nacional, pois não importa que um santomense seja bondoso para com os pássaros enquanto outros os perseguem e afugentam.
Talvez que tal situação permitisse que nossos pássaros deixassem de se amedrontar ao ver-nos aproximar?
Talvez que assim teríamos a possibilidade de alimentar melhor o regalo turístico?
Se se perguntar a qualquer um dos dirigentes santomenses, sem excepção, em que consiste o exotismo das ilhas, do qual poderemos aproveitar em prol do desenvolvimento turístico, não há dúvidas que, sem mais pensar, ele responderia: praias, fauna, flora, frutos e paisagem equatoriais, etc, etc. Tudo perfeito! Contudo, pode-se perguntar: que praias, estaria STEP hoje em condições de oferecer para regalo turístico? Parece-me que nenhuma praia possui um balneário ou simplesmente um urinório público. E relativamente à fauna, o que já se fez para conservação das nossas espécies animais? E se igualmente perguntar o tipo de fauna podemos oferecer para regalo turístico, não há dúvidas que a única resposta válida seria: papagaio. Efectivamente, qualquer outra resposta seria pura e simplesmente fantasia. Desconheço a situação dos nossos papagaios na Ilha do Príncipe, mas suponho que aí, talvez haja melhor concentração desses pássaros, o que pode transformá-los em únicos compostos da fauna santomense que pode se dar ao luxo de ser oferecido para regalo turístico. Além disso, se por um lado penso que a destruição ambiental na Ilha do Príncipe vem sendo mais moderada do que em S. Tomé, por outro, que os habitantes do Príncipe são mais educados em relação à fauna local do que os habitantes de S. Tomé.
Entretanto, o papagaio ainda não é o mais bonito dos nossos pássaros.
Paralelamente à destruição florestal, temos vindo a colocar em causa a existência de toda a nossa fauna.
Aqui falei dos pássaros como se fossem estes os únicos representantes da fauna santomense. De facto não, mas o regalo turístico fica sobremaneiramente voltado para essa constituinte da nossa fauna, como uma das mais bonitas do mundo.
Enfim! Talvez seria melhor transformar S. Tomé e Príncipe numa espécie de jardim zoológico-botânico ao ar livre, onde todos os cidadãos fossem seus tratadores.
E não seria nada mau se nas escolas, principalmente primária, ministrassem aulas focando a nossa beleza territorial, a beleza da nossa fauna e flora, o significado que têm para o futuro do país e, por isso, a necessidade que há no amor a eles e na sua protecção.
Relativamente à flora, julgo que já “abusamos” o suficiente da fertilidade territorial e da expontaneidade das nossas árvores, principalmente de fruto, pelo que julgo termos já atingido o momento, talvez derradeiro, de iniciar uma nova era: a era da replantação florestal.
Sim! Devemos desenvolver um processo recompensativo de replantação florestal organizado, “inundando” o país principalmente de árvores de fruto de todas as espécies.
De facto, desde a independência, milhares dessas árvores foram abatidas e nenhuma foi propositadamente plantada. Julgo que devemos iniciar um processo de selecção de árvores por qualidade, construindo viveiros próprios para uma replantação posterior.
De qualquer modo, o próprio país necessita não só de plantas frutíferas comestíveis, pelo que todas as nossas das melhores árvores não frutíferas devem igualmente ser cultivadas, desde o “quime” e o “gligô”até o “obá”, “pau-ferro”, “pau vermelho, passando pelo guegue-falso, ocá, amoreira, acácia, caixoeiro”, etc, etc.
E para a produção do carvão de madeira, a que já nos habituamos, valeria a pena seleccionar determinadas espécies, cultivá-las e reservá-las para o efeito.
Por outro lado, e relativamente à uma atenção especial que deve ser prestada à nossa fauna, principalmente a ornitológica, julgo que devemos tanto proibir o derrube de árvores cujos frutos habitualmente servem de alimentação dos pássaros, como selecção dessas mesmas árvores, cultivá-las, reservando-as para a alimentação especial dos pássaros que delas fazem uso.
Contudo pode ser que isso ainda não signifique solução, pois proteger a natureza não pode ser sinónimo da arborização do país ou da sua transformação em matagal (ôbô). Talvez que a solução ideal fosse a criação de zonas expressamente proibidas assim como de espécies proibidas. Eu propunha que em cada cinco hectares de terras cultivadas em STEP um deles ficasse reservado como hectare proibido onde a penetração do homem fosse expressamente proibido (excluindo investigadores que para a penetração, deverão necessitar de autorização especial). Nesses “hectares proibidos” seriam plantadas todas espécies de árvores santomenses, ecologicamente aceitáveis as diferentes zonas do país.
Essa relação de 1/5, o que equivale a 20%, fica adaptável ao território nacional no seu todo. Todavia, porque o país possui zonas vulneráveis, então outra atenção especial poderia ser dada a tais zonas.
Sim! O verdadeiro exotismo florestal santomense, já há muito que deixou de existir. Basta saber que cerca de 90% do nosso território fértil é ocupado por plantações quase monoculturais do cacau, para logo se deduzir que essa nossa dimensão territorial faz das ilhas de STEP se compor de uma floresta quase exclusivamente representada por cacaueiros e eritrinas. Os outros cerca de 10% restantes são um pouco mais diversificados. Entretanto, essa pouca e insignificante parte da nossa “floresta diversificada” tem vindo a ser arrasada, carregando consigo, e contra nós, todas as consequências da destruição florestal, internacional e cientificamente reconhecidas. Será que os dirigentes santomenses alguma vez pensaram nisso? Tudo me faz crer que reais problemas de STEP a poucos interessa. Muitos, senão todos dos nossos dirigentes têm demonstrado que dirigir STEP não é nada mais nada menos do que uma forma de ganhar melhor a vida.
E à propósito de ter falado na eritrina! Seria essa planta a mais indicada cientificamente para sombrear os nossos cacaueiros e alimentar um equilíbrio ecológico e fertilizador desejável? Havemos de saber?
Facto é facto! O turismo deve estar na nossa mira! O único regalo que podemos oferecer ao turista é o exotismo. Pelo que o Estado não tem outra alternativa senão abandonar o seu “direito adquirido” da destruição ambiental. Pois, se bem que nos encontramos misteriosamente situados em local geográfico onde a abundância de precipitação atmosférica é uma norma, não devemos esquecer que o “Deserto do Sahara” nem sempre existiu, assim como a expressão “Sahel” só pode ser encontrada, talvez nos dicionários mais modernos.
Nem devemos esquecer que apesar dessa misteriosa situação geográfica e apesar da insignificante dimensão territorial, essa mesma abundante precipitação atmosférica não é equitativamente distribuída. Incrível, mas facto!
Nem temos o direito de esquecer os anos 80.
E o mais perigo de tudo é que as partes mais vulneráveis do país (de norte a sudeste de S. Tomé), em termos de pluviosidade, são as que possuem apontadas contra si a terrível arma da destruição irreversível do ambiente.
Nestes termos, a grande verdade só pode ser uma: o nosso exotismo, que tanto nos gabamos, vai-se morrendo aos poucos. E a fase fatal chegará impreterivelmente se medidas não forem especificamente levadas a cabo.
No tocante ao nível externo, existem só duas vias de ligação: aérea e marítima.
A aérea é a principal de transporte de passageiros enquanto a marítima para trocas comerciais fundamentalmente.
Por outro lado, o país não possui embaixadas espalhadas pelo mundo. E isso torna difícil a obtenção de vistos de entrada. Por isso eu pergunto: porque não tornar possível a deslocação a STEP de qualquer estrangeiro sem a necessária obrigação de obtenção de vistos de entrada no exterior, seja de onde viesse, permitindo que o visto seja obtido no momento de entrada no aeroporto de S. Tomé, de forma muito rápida sem grandes formalidades?
O desenvolvimento turístico depende de um amplo número de factores quase interligados. Uns influenciam directamente enquanto outros indirectamente. Entre os de influência directa temos por exemplo o transporte, uma vez que a entrada de turistas no país depende da capacidade de os trazer a partir do mundo “fonte de turistas”.
O tal mundo “fonte de turistas” entende-se como a Europa e a América principalmente do Norte. A única ligação directa entre STEP e o chamado velho continente é através de Lisboa, o que se realiza só algumas vezes por mês. Com o continente americano STEP não possui qualquer ligação directa.
Deste modo, o desenvolvimento turístico deve ser visto como algo de perspectivas sombrias caso não seja encontrado um modelo que possa permitir o estabelecimento de mais ligações aéreas com tais continentes, principalmente com os países maiores fornecedores de turistas.
Uma das possíveis soluções a esta questão pode consistir em permitir que aviões de companhias estrangeiras utilizem o nosso aeroporto em escalas de abastecimento e etc, sob isenção de impostos.
Creio que STEP, hoje, não tira proveitos com a utilização do nosso aeroporto por aviões estrangeiros, pois estes são poucos ou mesmo nulos a escalarem o país. Por isso, não vejo razões por que tal isenção não possa ser de aceitar.
De acordo com a situação política na parte continental da África, onde boa parte de países está com uma determinada constância em estado de guerrilha, causando, infelizmente, certa insegurança na utilização dos seus aeroportos, a implantação duma política de isenção de impostos pela utilização do nosso aeroporto poderia servir-se de isca atirada no momento exacto.
Na lógica, para além de que isso poderia permitir a conquista de uma determinada simpatia e respectiva clientela turística, permitiria também a muita gente no mundo saber da existência dum país com o nome de São Tomé e Príncipe.
Sim! O desenvolvimento turístico depende também da capacidade do país em se colocar à vista do mundo.
STEP, hoje, é um país que grande parte da população mundial desconhece a sua existência.
E um país, cuja existência é desconhecida pelos povos europeus e americanos do norte, pode ter pretensões ao desenvolvimento turístico, principalmente quando a única via de transporte de entrada é a aérea?
Se quisermos beneficiar do desenvolvimento turístico, devemos demonstrar a esses povos, bem como ao mundo em geral, que nós existimos. Devemos demonstrar que existimos e não como simples ilhas, mas como uma nação de absoluta independência política.
No mundo actual, considero que existem três categorias principais de actividades capazes de conduzir um país a se colocar mais directamente à vista do mundo:
a guerra,
a utilização do crescente peso económico e
o desporto.
À essas três actividades pode-se também acrescentar a existência de algo que seja exclusivo e não absurdo. Para o nosso caso, podemos encontrar essa exclusividade, por exemplo, na existência de um poder executivo ou governo constituído todo ele de cidadãos do sexo feminino. Acho que este também poderia ser uma boa hipótese para que sejamos conhecidos no mundo e que possa merecer (quem sabe?) uma avalanche de turistas.
A GUERRA
No que diz respeito à guerra, seja ela qual for, de agressão ou civil, leva as partes à vista do mundo. Nas guerras de agressão, uma das partes, que outrora podia ser desconhecida, ou de insignificante importância na arena internacional, ganha a fama ou por ter derrotada a outra parte, ou por ter sido dizimada, sofrendo baixas incalculáveis, ou por ter anexada a outra parte.
Em STEP não queremos ser nem agredidos nem agressores, pelo que se exclui a hipótese de agressão para darmo-nos a conhecer ao mundo. E ainda que a hipótese de agressão seja uma realidade, num mundo onde uns países, reconhecidos como mais fortes, se sentem com o santo direito de defender <<seus interesses>> dentro dos limites territoriais de outros, infelizmente reconhecidos como mais fracos, não vamos sentar e cruzar os braços à espera que sejamos agredidos, para com isso marcarmos a nossa presença no mundo. E penso que também não estamos em condições de agredir ninguém.
No que diz respeito à guerra civil, em STEP isso nunca foi possível e, hoje, todas as imorais encrencas entre os polícias e os tropas do exército, ainda não são suficientes para que eu possa julgar a possibilidade duma tal acção em nosso território.
O PESO ECONÓMICO:
A utilização do crescente peso económico para se colocar à vista do mundo, é facto que prevalece nos países hoje semi-industrializados ou novos industriais, tentando com isso subir o pódio dos industrializados. Conhecemos a insignificância da nossa economia, pelo que é absurdo pensar na sua utilização.
Portanto, das três principais categorias de actividades por mim consideradas como capazes de colocar um país à vista do mundo, resta-nos o desporto.
Sim! O DESPORTO.
(segue na próxima publicação)